É assustador pensar que estamos todos obsoletos, postando conteúdo para 10 pessoas por dia, num trabalho exaustivo e desgastante que nos tele transportou novamente para a segunda revolução industrial, onde ainda somos apertadores de botões.
No momento em que nos vemos enredados nesse pensamento imediatista de que “é preciso acompanhar o fluxo” precisamos parar e respirar. Literalmente. O número de doenças associadas ao stress, ansiedade e afins estão assustadores. Precisamos nos lembrar que o futuro é o resultado do acúmulo de passados. Mas para que esse passado venha a resultar num futuro interessante, precisamos trabalhar intensamente o presente.
A questão é que trabalhar o presente não quer dizer necessariamente virar escravo da tecnologia, fazer tudo o que é dito por aí que precisa ser feito.
Usando um exemplo bem popular, você certamente já ouviu que beber uma taça de vinho e 2 litros de água ao dia faz bem à saúde. Assim como comer pelo menos 3 nozes, 1 maçã, 1 banana, 2 laranjas, 1 fatia de mamão, três ovos, peixe, 5 porções de verduras, e por aí vai. Se formos somar tudo que é dito necessário comer ao dia para ser saudável, passaremos o dia comendo e não teremos, ao final de tudo, a saúde como resultado. Da mesma forma, se a gente tentar dar conta sozinho de todas as ações digitais que são necessárias para ter sucesso, a gente pira.
Pensa comigo, se não é o exato exemplo da dieta da saúde: escrever 1 artigo por dia, postar conteúdo inédito pelo menos 1x ao dia no Instagram, Facebook, Twitter e LinkedIn (preferencialmente 3), postar vídeos no YouTube, Stories, IGTV, Reels (é preciso fazer Reels!) e quem sabe também dancinhas e coreografias no TIK TOK. Podcast, você tem um? Podcast é o futuro! Only Fans, você precisa chamar as pessoas para o Only Fans e canal no Telegram e WhatsApp também! Ufa! Agora você garantiu a sua presença digital e está pronto para vender na web, certo?! Errado. E essa é uma armadilha na qual caem muitos dos novatos no mercado de vendas pela internet. É um dilema Tostines.
No começo, você faz sozinho porque não tem recursos para ter uma equipe ou contratar um especialista. E o algoritmo das redes te massacra entregando o seu conteúdo para cada vez menos gente. Então você tenta fazer o seu trabalho e nas horas vagas postar nas redes sociais. Afinal de contas, é só colocar uma foto e falar para as pessoas que estou aqui, não é?!.
Aí quando você entra no Instagram encontra 200 postagens melhores do que as suas, porque a rede é um flow infinito de conteúdo. Você se sente mal porque soma o desempenho de todas as pessoas que você acompanha como se fosse uma só coisa e acha que nunca vai chegar lá. E vou te dar uma péssima notícia: desse jeito você não vai chegar mesmo. O grande mal do nosso tempo é que esse excesso de coisas, de opções, de ofertas, de oportunidade, gera uma dificuldade em se criar foco e estratégia.
E quando a gente fala em estratégia parece que você precisa ter um plano mirabolante e inovador. Mas estratégia é na verdade algo muito mais simples e descomplicado. Estratégia é um norte, um roteiro, um caminho. É claro que é sempre bom de quando em quando parar, analisar o desempenho de tudo que você fez, analisar a realidade do mercado e, se necessário, recalcular os passos. Nada de outro mundo e algo muito possível para qualquer vivente.
Para desmistificar de vez a estratégia, quero trazer aqui mais um exemplo contemporâneo: beber água. Se você trabalha no home office (pelo menos agora durante a pandemia) tenho certeza de que já passou por isso. Beber água é o objetivo final, é a meta. A pessoa com estratégia, sai da cadeira em frente ao computador, pega a sua garrafinha d’água, sai do quarto, entra no corredor, chega na cozinha, desenrosca a tampa da garrafa, abre a torneira do filtro, coloca a garrafa embaixo d’água, enche a garrafa e bebe a água.
A pessoa sem estratégia pega a garrafa, chacoalha, solta a garrafa, abre o Facebook, vê um comentário, entra no perfil da pessoa que curtiu o comentário e em 2 minutos já está em Nárnia. Corta para essa mesma pessoa acordando no meio da noite e indo na cozinha porque está com a garganta seca. Com estratégia, sem estratégia. Grosso modo, estratégia é você não tirar o foco da sede até que consiga tomar a água.
Quando eu deixo de “olhar” a sede, eu me distancio da água a cada minuto que passa, ao invés de me aproximar.
E é isso que o mundo da urgência digital faz com a nossa vida. Ele tira os nossos olhos da meta o tempo todo e ficamos nesse looping infinito de autopunição e cobrança. Por isso não podemos nos esquecer que sim, o passado é o que estamos fazendo agora e que, para não vivermos no passado durante o presente e o futuro, é preciso construir. Portanto se você está só postando sem estratégia, você não vai chegar a lugar nenhum. O sujeito que tem 2 milhões de seguidores não abriu a sua conta ontem. Tudo começou um dia. Começar é preciso; construir também. Gosto de falar muito aqui sobre narrativa, porém narrativas também precisam ser construídas. E quando você pretende começar a sua?
Pra finalizar com uma dica, lembre sempre que você é mortal e foque o seu esforço individual em um local só. Preocupe-se em criar autoridade naquela determinada plataforma. Ainda que você pense que já tenha entendido a lógica da coisa, leia, estude, pesquise. Tem sempre alguém que sabe alguma coisa que você não sabe. E cuidado, muito cuidado com a adição. Se você está ligado demais na rede social (a ponto de não parar de pensar nisso) está na hora de contratar dois profissionais: um psicólogo e um social mídia, rs. Sério: não dá pra fazer tudo sozinho, sob pena de viver eternamente num passado sem construção alguma.
foto: Anita Jankovic
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